O MONSENHOR LANDIM E “UM PERFIL DE SACERDOTE”
PATRONO DA CADEIRA 069 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOFRÁFICO DO RIO GRANDE DO
NORTE, TAMBÉM FOI O PRIMEIRO PRESIDENTE DA EXTINTA ACADEMIA POTIGUAR DE LETRAS.
Após a Ordenação Sacerdotal, no dia 21
de novembro de 1909, pela imposição das mãos de Dom Luís Raimundo da Silva
Brito, Bispo de Olinda, na Matriz de Santo Antônio, celebrou a sua primeira
Missa, na Matriz de Pau d’Alho
POR FRANCISCO FERNANDES MARINHO
O Monsenhor José Alves Ferreira
Landim (1887/1968), alagoano, nasceu em Pão de Açúcar, no dia 03 de maio
de 1887, filho do Dr. Vicente Ferreira Landim e Maria Cavalcanti Ferreira
Landim. No ano de 1900, ingressou no
Seminário de Olinda, onde fez os
estudos secundários, o curso de Filosofia, o de Direito Canônico e o
de Teologia.
Após a
Ordenação Sacerdotal, no dia 21 de novembro de 1909, pela imposição das
mãos de Dom Luís Raimundo da Silva Brito, Bispo de Olinda, na Matriz de Santo
Antônio, celebrou a sua primeira Missa, na Matriz de Pau d’Alho, no dia 08 de
dezembro, e foi nomeado Coadjutor da Freguesia de Brejo de Deus; Capelão de
Poço da Panela, no Recife, em 1910; trabalhou em Amaragi, entre 1912/15, e da
Matriz da Boa Vista, no Recife, passou à Diocese de Floresta, no
sertão pernambucano, nomeado Vigário de Triunfo, em 1916, e na Diocese de
Nazaré da Mata, vigariou a Freguesia de Queimadas.
No dia 31 de
agosto de 1923, a convite de Dom José Pereira Alves, Bispo Diocesano, chegou à
Diocese de Natal, sendo nomeado Capelão do Colégio Santo Antônio; em 1924,
Capelão do Colégio da Conceição e Diretor do Colégio Diocesano Santo Antônio.
Com menos
de dois anos, na Diocese de Natal, através da Provisão datada do dia 07 de
julho de 1925, foi nomeado Vigário da Freguesia de Nossa Senhora da
Apresentação e Cura da Catedral, tomando posse no
Altar-mor da Igreja de Santo Antônio dos Militares, onde funcionava,
provisoriamente, a Matriz e Catedral, no dia 12 do mesmo mês.
Quando Vigário
da Apresentação, há 86 anos, em 1936, o Monsenhor publicou o
livro UM PERFIL DE SACERDOTE, pela Imprensa Industrial, do Recife
(PE), sobre a vida e a obra do Padre João Maria Cavalcanti de Brito, uma
homenagem ao “Anjo da Caridade”, da Cidade do Natal.
No “Prolóquio”, afirmou o Monsenhor Landim que ainda não havia
surgido um biógrafo para o Padre João Maria Cavalcanti de Brito (1848/1905),
nascido na fazenda Logradouro do Barro, na vila de Jardim de Piranhas, à época,
pertencente ao município de Caicó, no dia 23 de junho, filho de Amaro Soares
Cavalcanti de Brito e Ana de Barros Cavalcanti.
E, ainda não apareceu, reafirmamos.
Existem, sim, trabalhos interessantes, como a coletânea intitulada Padre
João Maria - Subsídios para a História, organizada por Pedro Soares de
Araújo Filho e publicada em 1906; Padre João Maria - Notícia Histórica
de sua vida, seu Trabalho Apostólico e Benemérito, uma conferência
proferida por Ponciano Barbosa, no Círculo de Operários Católicos, na Cidade do
Natal, no dia 10 de outubro de 1918; a coletânea Padre João Maria
(23.06.1848 - 16.10.1905), por João Carlos de Vasconcelos, publicada em
1955 e republicada em 1957; Padre João Maria, por Boanerges Soares,
em 1956; o Romance da vida e dos milagres do Padre João Maria (em
versos quase populares), de Rômulo Chaves Wanderley, publicado em 1968;
como também outros trabalhos tão incompletos quanto o do Monsenhor Landim.
Sobre esta afirmação, embora em nada
diminuindo o grande esforço em registrar fatos históricos da vida do Padre João
Maria, frisou o próprio Monsenhor:
"Não tentei uma biografia; tentei, apenas, afastar a pedra, para
que fique à vista de todos a rica fonte de seus excelentes predicados de homem
de bem e de sacerdote exemplar.
É apenas um perfil. Outros marcar-lhe-ão todos os traços característicos,
far-lhe-ão a figura completa e integral, que eu não soube focalizar."
O problema não é que “não
soube focalizar”, mas, sim, a dificuldade que enfrentou para a obtenção de
dados importantes sobre o Padre João Maria. Na época do Monsenhor Landim,
talvez tivesse sido bem mais fácil “focalizar” um maior número de
“traços característicos”, para a composição da Biografia do “Anjo da
Cidade do Natal”. O Monsenhor Landim encontrou dificuldades para obtê-los,
faltando-lhe uma pesquisa in loco, e a confirmação documental, mas,
reconheçamos, trata-se do primeiro esboço ou “Perfil” biográfico do Padre João
Maria Cavalcanti de Brito. Sobre os primeiros passos, tentou o Monsenhor Landim
contextualizá-los em um Seridó, ora seco - “o espantalho do sofrimento”;
ora verde, quando “vinham os bons invernos” - o segredo da
vitória do sertanejo, em sua insistência, em sua esperança de viver o Sertão.
Nascido na região do Seridó, na
véspera do São João, teve João Maria uma infância como toda e qualquer criança
de interior, com um grande diferencial: os seus pais, Dona Ana ensinou-lhe as
primeiras letras e o Senhor Amaro, “professor de meninos”, foi o seu primeiro
Mestre-escola, o que contribuiu para o ingresso, aos 12 anos de idade, no
Seminário de Olinda.
Concluídos os estudos no Seminário de
Olinda, e após receber “a primeira tonsura e as quatro ordens menores”, foi
o seminarista João Maria encaminhado à Diocese de Fortaleza para receber
as Ordens Maiores, em virtude do futuro 21º Bispo de Olinda, não ter,
ainda, sequer, sido escolhido. O Processo chegou em Fortaleza no começo de
novembro, e Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, foi
escolhido, apenas, no dia 22 de dezembro de 1871.
Dois documentos importantes
esclarecem algumas das mais propaladas dúvidas sobre a conclusão dos “estudos”
teológicos e das ordenações maiores do seminarista João Maria, no Seminário da
Praínha, em Fortaleza: - o Processo, existente no Arquivo da Arquidiocese de
Natal, encaminhado a Dom Luís Antônio dos Santos, Bispo do Ceará, a pedido do
Vigário Capitular de Pernambuco, sede vacante, para a ordenação sacerdotal, e o
“Álbum Histórico do Seminário Episcopal do Ceará”, edição de 1914, confirmando
a data da Ordenação.
O seminarista João Maria
recebeu o Subdiaconato, no dia 06; o Diaconato, no dia 19; e a
Ordenação Presbiteral, em ordenação geral, pela imposição das
mãos de Dom Luís Antônio dos Santos, 1º Bispo do Ceará, na Capela de Nossa
Senhora da Conceição da Praínha, no dia 30 de novembro de 1871.
O Monsenhor Eymard L’Eraistre
Monteiro, no seu livro “Esboço biográfico do Pe. João Maria”, publicado em
1979, transcreveu, nas páginas 37/38, a seguinte informação:
"João Maria Cavalcanti de Brito. Natural e batizado na Freguesia de
Santana, vulgarmente chamada Seridó, da Província do Rio Grande do Norte, do
Bispado de Pernambuco, filho legítimo de Amaro Cavalcanti de Brito e Ana
Cavalcanti de Maria, tendo recebido em sua própria Diocese a primeira tonsura e
as quatro ordens menores, veio prosseguir sua ordenação nesta Diocese do Ceará,
trazendo cartas demissórias do excelentíssimo e reverendíssimo senhor Vigário
Capitular de Pernambuco, sede vacante. Aos seis dias do mês de novembro do ano
de mil e oitocentos e setenta e um, recebeu o subdiaconato e aos dezenove do
mesmo mês e ano, recebeu o diaconato. Finalmente, aos trinta de novembro do
mesmo ano, recebeu o sagrado presbiterato em ordenação geral que celebrou o
excelentíssimo e reverendíssimo senhor Bispo do Ceará, Dom Luís Antônio dos
Santos, na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Praínha. E eu, Taurino
Justiniano Ferreira Donetes, escrivão ajudante da Câmara Episcopal, o
escrevi."
Um outro documento importante é o
“Livro de Ordinandos de Fortaleza”, folha 53, registrando o número da ordem, o
local do nascimento e a data da Ordenação Sacerdotal: “100. João Maria
Cavalcante de Brito, Seridó (R. G. do N.) a 30 Nov. 1871”.
Ordenado sacerdote, dirigiu-se aos
festejos do dia 08 de dezembro - Festa da Conceição, em sua terra natal, mas
chegou em Caicó, apenas, no dia 10, data da sua primeira Missa, cantada na
Matriz de Sant’Ana.
Tornou-se, inicialmente, Auxiliar do
Vigário de Caicó, “podendo residir em Jardim de Piranhas”; depois,
Florânia, Acari, Santa Luzia do Sabugi, na Província da
Paraíba, Vigário Colado da Freguesia de Nossa Senhora do Ó, de Papary
e, finalmente, da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, da Cidade do
Natal, por permuta com a transferência da colação, com o Padre José
Hermínio da Silveira Borges, em 1880.
A Proposta da permuta foi
aprovada por Dom Frei Vital e o Padre João Maria nomeado através da
Carta Imperial, datada do dia 15 de maio de 1880 [Natal: Reforma - Órgão Oficial,
III (101): 2, 24.09.1881], tomou posse da sua Freguesia, no dia 07 de agosto de
1881, de acordo com o Registro do Termo da Posse, assento no Livro do Tombo da
Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, da Cidade do Natal, número 1, folhas
102v., conforme transcrição do Monsenhor José Alves Landim, em “Um Perfil
de Sacerdote”, p. 89:
"Aos sete de agosto de mil oitocentos e oitenta e um, em virtude da
autorização dada pelo Excelentíssimo Senhor Monsenhor Vigário Capitular,
Chantre José Joaquim Camelo de Andrade, em ofício datado de vinte e nove de
julho do corrente ano, dei a posse paroquial ao Reverendíssimo senhor vigário
João Maria Cavalcanti de Brito, segundo o estilo. Natal, oito de agosto de mil
oitocentos e oitenta e um. (Assinado) Padre José Hermínio da Silveira Borges.
Está conforme. (Assinado) Padre João Maria Cavalcanti de Brito. Pároco da
Freguesia."
Na Cidade do Natal, plenificaram-se,
retumbantemente, os seus ideais: exerceu o vicariato na Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Apresentação; criou o jornal “Oito de Setembro”, e transformou-se em
o “Apóstolo da Caridade”.
O Monsenhor Landim fez a seguinte
observação:
"João Maria era um sacerdote integral: zeloso pela salvação das
almas, desprendido do que era da terra, para pregar melhor o que era do céu,
ele o fez sempre com a palavra, com o exemplo e, até mesmo, com a pena de
jornalista."
E o Monsenhor Francisco de Assis
Pereira (1935/2011), na conferência intitulada “Padre João Maria e o
‘Oito de Setembro’”, apresentou uma análise histórica sobre a homenagem que
o “Anjo da Caridade” prestou “a Nossa Senhora, de quem o
Padre João Maria era muito devoto, cuja data natalícia se comemora neste dia,
Natividade de Maria”.
O Monsenhor José Alves Ferreira
Landim tentou traçar o perfil do “Santo Padre João Maria”, canonizado pela
vontade do povo. Cronistas, poetas, historiadores, escultores, ..., e o povo em
geral, voltam-se, também e sempre, para alguns dos aspectos históricos do nosso
“Santificado”, mas, nenhum dos trabalhos publicados conseguiu, ainda,
esclarecer algumas dúvidas, tanto pela falta de documentos quanto
pela não realização de uma pesquisa confiável, o que nos leva
a comungar, repetimos, com a afirmação do Monsenhor
Landim: “ainda não apareceu um biógrafo para o Padre João Maria”.
FONTE – GAZETA DE NATAL